quarta-feira, novembro 21, 2007
Membros de seita ortodoxa aguardam apocalipse em abrigo subterrâneo em Moscou
NIKOLSKOIE, Rússia (AFP) — Temendo o apocalipse, que prevêem para maio de 2008, 30 seguidores de uma seita ortodoxa, que mantêm quatro crianças, estão entrincheirados num abrigo subterrâneo, ameaçando se explodir se autoridades tentarem tirá-los do local.
"Dizem que tudo é diabólico no mundo. Que a globalização é diabólica e prevêem a chegada do Anticristo", explica o padre Alexeï, que veio rezar no local perto da cidade de Nikolskoïe na região de Pienza (500 km a sudeste de Moscou).
"Lamento por eles, por terem se aprisionado por um sonho que não existe", acrescenta, esperando que "saiam mais cedo ou mais tarde".
O grupo ameaça explodir tudo com botijões de gás se as forças da ordem tentarem retirá-los de seu abrigo, instalado no fundo de um barranco, onde acreditam piamente que estão protegidos do fim do mundo.
O local, onde estão há quase duas semanas, está coberto de neve e varrido por muito vento. A polícia proíbe o acesso dos curiosos.
A temperatura oscila entre -5° e -10°, e religiosos locais organizam missas numa grande tenda perto, pela salvação da seita.
Apesar do frio, os adeptos rejeitam os apelos feitos por autoridades civis e religiosas, anunciando que representam a "verdadeira" Igreja ortodoxa. Os pedidos para que deixem as crianças sair são feitos em vão.
Segundo os moradores de Nikolskoïe, o guru da seita, Piotr Kouznetsov, apelidado de Petia, é um rapaz sério, vindo de uma família piedosa - sua mãe cantava nas cerimônias fúnebres - e chegou a estudar engenharia.
Foi aberta uma investigação contra a seita mas as autoridades preferem aguardar, com medo de uma carnificina, explica Vladimir Provotorov, administrador regional. "Eles esperam o Apocalipse. Deixem que o façam", sugere.
"Petia passou por uma lavagem cerebral... Mas eles não perturbam ninguém", conta Liouda, uma camponesa.
Segundo os moradores, os adeptos da seita viviam em paz em Nikolskoïe há vários meses, andando pela cidade em grandes roupas pretas, rejeitando o conforto moderno da eletricidade e do telefone.
Eles calcularam a chegada do Apocalipse estudando as estrelas, segundo as autoridades russas.
"Algumas de suas idéias se parecem às da antiglobalização no Ocidente. É uma rejeição à civilização", afirma Iouri, vizinho da tia de Piotr Kouznetsov, na aldeia vizinha de Bekovo.
Eles vêem de várias regiões da Rússia, mas também da Belarus e da Ucrânia, ocupando cinco casas da cidade, reconhecíveis pelas grandes cruzes ortodoxas que afixaram no telhado e nas portas.
As seitas se multiplicaram na Rússia desde a queda da URSS em 1991, contribuindo para uma grande confusão ideológica e econômica.
Este acontecimento, amplamente divulgado pela televisão nacional russa, é "um perfeito exemplo do que pode acontecer numa sociedade que não tem educação religiosa", comentou o metropolita Kirill, porta-voz da Igreja ortodoxa russa.
(do site http://afp.google.com)
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